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3, 2022
Editorial
Publié en ligne le 30 juin 2022
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Em agosto de 2019, a fim de organizar uma exposição das revistas de semiótica no quadro de seu XIV Congresso, a Associação Internacional de Semiótica estabeleceu uma lista dos major semiotic journals do momento. Ela continha quarenta e nove títulos ! E tudo parece anunciar que em setembro de 2022, em Tessalónica, para o XV Congresso, serão bem mais de cinquenta. No meio de uma tal profusão, o que distingue Acta Semiótica das suas irmãs ou concorrentes ? Será que a nossa publicação propõe algo que possa despertar a curiosidade, a atenção, um interesse particular do público ? Se ela oferecer alguma originalidade, qual seria ? Alguns, sem dúvida, notarão em primeiro lugar que, diferentemente de muitas entre as mais importantes, ela não é o órgão de expressão de uma associação nacional. É o porta-voz independente e, por definição, internacional (daí a pluralidade de línguas, em si mesma uma característica notável) de uma linha teórica explicitamente assumida e que procuramos desenvolver e renovar : a semiótica estrutural e os seus desdobramentos, em particular sociossemióticos. É, portanto, a revista, como se diz, de uma “escola”, de um grupo de “greimasianos” e “pós-greimasianos” não dogmáticos, espalhados nos quatro cantos do mundo. Em suma, se, em termos de espacialização, Acta Semiotica é institucionalmente sediada no Brasil, ela é, cientificamente, apátrida. Traduzindo isso em termos positivos, é uma revista de semioticistas “cidadãos do mundo”. Aqui está um primeiro traço distintivo. Outros observadores, mais interessados em questões de temporalização, ficarão provavelmente intrigados pela história desta revista logo mais cinquentenária : uma história com múltiplas voltas e reviravoltas ligadas às inevitáveis complexidades da “actorialização”. Fundada em 1979 por Greimas (assistido por Anne Hénault e o autor dessas linhas), ela foi posteriormente refundada duas vezes, a primeira por Jacques Fontanille sob a forma das “Nouveaux” Actes Sémiotiques, a segunda vinte anos depois por nós próprios, inicialmente com o retorno à denominação original e, mais recentemente, após a recusa de uma censura, a adoção do título atual. No fundo, esta é a história de uma fidelidade que foi mantida não apesar das sucessivas mudanças, mas sim, graças a elas. História banal, ou singular ? Em todo o caso, parece-nos que merece atenção na medida em que induziu a evolução discreta, mas profunda das suas orientações problemáticas e de seus conteúdos temáticos, assim como as espectaculares metamorfoses da sua forma editorial. De fato, basta olhar para as páginas da revista, tal qual ela aparece na prateleira ou na tela, para reconhecer um estilo editorial um tanto “à parte”. Frequentemente, os comentários que nos chegam apontam o fato de que, ao longo dos últimos dez anos (ou seja, tanto antes quanto depois da mudança de localização e de título ocorrida em 2020-21), a equipe que pouco a pouco se constituiu em torno das AS, e que continua hoje a crescer, encarna um estilo de investigação e de publicação científica “diferente”, se não, em alguns aspectos, quase “fora da norma” face à atual tendência geral à uniformização. A razão disso é que as condições em que interviram os constrangimentos da espacialização, da temporalização e da actorialização acabaram por determinar, no plano da “textualização”, uma série de escolhas de ordem editorial e redacional que contribuem para agora “fazer a diferença” em comparação com os periódicos que tiveram uma história mais breve e mais serena. Para dar-se conta, é suficiente ler os sumários dos últimos números. Aquele da presente edição inclui nada menos que seis seções : Le point sémiotique, Dossier, Rétrospective, Ouvertures, In vivo, Bonnes feuilles, às quais (que logo vamos comentar) se juntam aquelas abertas para o futuro próximo (em particular Diálogo). Longe de ser gratuita, esta articulação por blocos diferenciados responde a uma ambição compartilhada pela equipe de redação e os autores. Diversificar tanto quanto possível as rubricas, e por aí os regimes redacionais, com as posições e estratégias enunciativas correspondentes, é colocar os investigadores-autores em posturas diversificadas face ao leitor e aos interlocutores científicos atuais ou potenciais. Ora, em vez de se limitar a divulgar trabalhos acadêmicos em série para o benefício quase exclusivo de autores obrigados a publicar para fazer carreira, esta revista pretende privilegiar o leitor, o que significa em primeiro lugar oferecer-lhe textos legíveis e que remetam a mais do que um único registo, isto é, que, além da teoria, da análise e das descrições, abrangem, por exemplo, a reflexão crítica ou a tomada de posição (semioticamente argumentada) sobre problemas de sociedade. Com isso, o objetivo último é provar que o tipo de semiótica que Acta Semiotica pretende promover tem um papel a desempenhar na cena intelectual no sentido mais amplo. Vejamos brevemente como isso se traduz na presente edição. Abre-se com o “Point sémiotique”. Esta seção, concebida de modo geral para permitir a pesquisadores experientes fazer um balanço do estado da disciplina no contexto global, oferece no presente caso — após o grande colóquio realizado no início de 2022 em Tartu para celebrar o centenário do nascimento de Youri Lotman — uma reflexão “inter-semiótica” de ampla envergadura. Depois de dar destaque às diferenças, mas também às convergências entre as duas abordagens irmãs que são a semiótica russa e as problemáticas decorrentes da obra de Greimas, esboça-se aqui uma linha de pensamento nova, mais rica de promessas que a simples continuação de cada um dos dois ramos separados. O volumoso “Dossiê” que sucede reúne as reflexões e análises de semioticistas de tendências teóricas diversificadas (no âmbito da epistemologia estrutural) em um difícil esforço comum para elaborar um pensamento teórico do ritmo, dimensão aqui unanimemente reconhecida como fundamental do ponto de vista da construção e da apreensão do sentido. O “leitor-modelo” (como o chamaria U. Eco) a quem dirigem-se estas páginas é o epistemólogo-semiótico escondido em cada um de nós enquanto ator e intérprete das dinâmicas espaço-temporais, ao mesmo tempo sensíveis e significativas, que pontuam a nossa experiência vivida em um mundo onde a única constante é a mudança. Segue-se uma breve “Retrospectiva” que realça a pertinência duradoura da obra de Jean-Marie Floch mais de vinte anos após a sua morte. Em vez do ritual acadêmico da “homenagem” com os seus discursos mais ou menos convencionais, o nosso amigo, que durante tanto tempo foi marginalizado pelos seus pares, teria sem dúvida preferido a luz crua aqui projetada sobre as inovações conceituais que lhe devemos e que não cessam de nos inspirar em nossas práticas de investigadores, quer no âmbito do plástico e do visual, quer, também, fora dele. Na seção das chamadas “Aberturas teóricas” apresentamos uma tentativa de renovar um tema ao mesmo tempo atual e perene, aquele das formas mutáveis da “verdade” : para o leitor imerso no imediato do fluxo informacional, este artigo propositalmente afastado do dia a dia sugere uma alternativa possível à obsessão (semioticamente muito simplificadora) das “fake news”. “In vivo”, rubrica destinada a acolher ensaios baseados na experiência e que nem sempre assumem a forma de análises semioticamente acabadas, propõe, no presente número, por um lado, uma abordagem sociossemiótica de um tipo de prática frequentemente evocado entre nós mas raramente estudado de perto, nomeadamente a dança, e, por outro lado, em um modo semi-paródico, um brevíssimo panorama semiótico da existência perigosa do Porco da Índia. Com efeito, a revista se dá como objetivo também partilhar prazeres (tais como a dança) e mesmo divertir tanto quem lê quanto quem escreve. Finalmente, as “Bonnes feuilles” justapõem as respectivas introduções de três livros recentes relativos a outras tantas formas do espetáculo que as sociedades oferecem a si mesmas, na maioria das vezes para o melhor (na tela, no teatro ou na rua), mas também, às vezes, para o pior (em certos palcos políticos). Eis aqui, portanto, em relação com “o semiótico” no sentido mais amplo, uma gama de temas e problemas, e também de ângulos de ataque que implicam uma pluralidade de modos de leitura. Isto é necessário se quisermos fazer da própria semiótica uma abordagem intelectual útil para todos — até mesmo entusiasmante, talvez ! — graças à sua ligação com a vida.
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