Apresentação da revista

Acta Semiotica :
Apresentação em forma
de pequeno manifesto

Publicado online em 4 de março de 2021
https://doi.org/10.23925/2763-700X.2021n1.54162
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1. Orientação geral

Acta Semiotica publica seu primeiro número, entretanto não se trata propriamente de uma revista nova que surge do nada. Ela é a resultante de uma cisão ocorrida em março de 2020 no seio da equipe das Actes Sémiotiques, revista mãe da qual, a partir de 2012, o signatário dessas linhas tornou-se novamente o redator chefe, depois de ter ocupado pela primeira vez essa função no tempo de Greimas, e a seu lado, na época de sua fundação, de 1979 a 1987.

 

A divergência que levou a essa ruptura girou em torno de uma questão crucial : como pensar, como escrever a semiótica hoje?1 Hoje, isto é, em um contexto acadêmico, científico e mais amplamente cultural, no qual nossa disciplina encontra-se cada vez mais marginalizada. Entre a geração de Greimas — rodeado por Lévi-Strauss, Dumézil, Benveniste, Barthes e alguns outros — e a nossa (ou as nossas), tudo mudou. Não somente faz tempo que a moda estruturalista passou, mas especialmente a semiótica, que estava então na vanguarda da pesquisa ao lado da linguística e da antropologia estrutural, tornou-se em algumas décadas uma disciplina quase desconhecida no catálogo dos ensinos universitários, ao mesmo tempo que era mantida (ou se mantinha) cada vez mais afastada do debate intelectual contemporâneo — salvo a exceção italiana, graças a Umberto Eco.

1 Título de um debate publicado no final de fevereiro de 2020 na rubrica Dialogue das Actes Sémiotiques (n° 123) e “despublicada” no início de março.

As razões desse isolamento são múltiplas, complexas, e em boa parte elas nos escapam. Mas a primeira, talvez, seja o fato de que, já desde Semântica Estrutural (obra publicada tardiamente em inglês, e por uma editora pouco conhecida2), a semiótica de Greimas não conseguiu se estabelecer do outro lado do Atlântico, onde tudo agora se passa. Tanto é verdade que as ideias fundadoras do estruturalismo europeu dos anos 1950-1970 são agora consideradas nos países de língua inglesa como descobertas do “pós-estruturalismo”. Um exemplo disso é o tal “storytelling”, essa caricatura tardia e leniente, mas com grande sucesso midiático, da gramática narrativa. A fortiori, nada do que foi feito subsequentemente a partir ou em volta de Greimas por seus muitos discípulos ou sucessores desde seu desaparecimento existe do outro lado do Canal da Mancha ou do Atlântico.

2 Cf. Massimo Leone, “Post-structural Semiotics”, in AAVV, Bloomsbury Semiotics, no prelo, 2021.

Mas será que a nossa disciplina foi mais bem sucedida em enraizar-se no resto do mundo e, em particular, nos países europeus onde nasceu? Teria que ser muito otimista para acreditar nisso quando o que vemos é, ano após ano, a rarefação das cátedras, o desaparecimento de periódicos, a ausência de qualquer semioticista nos grandes debates da sociedade e, na maior parte dos países, a falta crescente de interesse no público estudantil. Se não há muito o que fazer quanto à rejeição por parte do mundo anglófono, as razões de nosso fracasso em nosso próprio território (estendendo-se da Itália à Lituânia, via a França, do Brasil ao México, passando pelo Peru, entre outros), ao contrário, estão em nossas mãos. Devem-se principalmente, acreditamos, ao fato de que, com nosso estilo complicado e nosso discurso pedante, nós, semioticistas ligados de perto ou de longe à chamada “Escola de Paris”, não alcançamos nada melhor do que nos fazer passar por outros tantos pequenos Diafoirus, esse pseudocientista de Molière que, em vez de impressionar seu mundo, não faz mais do que tornar-se ridículo com seu dogmatismo e seu latim abstruso.

No entanto, a semiótica — cujo objeto, o sentido, e método, estrutural, são perfeitamente dignos de figurar no reino das ciências sociais — não é intrinsicamente uma interrogação sobre o mundo mais “complicada” do que a de suas irmãs, a sociologia, a psicanálise ou a fortiori a filosofia. Portanto, não requer por natureza o uso de uma fraseologia ainda mais inacessível do que a delas ! E ela não tem vocação — não mais do que suas irmãs — para uma autocontemplação pura que a impeça de se preocupar com outra coisa senão a sua própria edificação. Porém, essas são duas das falhas mais comuns entre a tribo greimasiana (mais justo seria dizer “greimasista”3) e as que melhor explicam a repulsa ou a ironia que, na maioria das vezes, ela inspira. E foram as divergências e incompatibilidades internas relativas a esses pontos críticos que, dia após dia, acabaram estilhaçando a aparente unidade do “grupo greimasiano”.

3 Cf. E. Landowski, “Greimas e o greimasianismo”, in Com Greimas, São Paulo, Estação das letras e das cores, 2017, p. 159-163.

Mas, além da anedota e das reações epidérmicas, o que está fundamentalmente em jogo se situa em um plano intelectualmente mais substancial. Trata-se da eterna rivalidade entre as duas vocações das ciências humanas e sociais, e especialmente da semiótica: deveria ela desenvolver-se antes de tudo — ou unicamente ? — como puro “projeto científico”, à maneira de uma conceptualização autônoma, com os modelos e a correspondente metalinguagem sui generis, requisitos indispensáveis, mas que, se levados em consideração de modo demasiadamente exclusivo, comportam o risco de conduzir à autoreferencialidade e à perda da visão do próprio objeto da pesquisa? Ou a semiótica tem também — ou sobretudo ? — um papel a ser assumido no século e na vida, primeiramente contribuindo para a metodologia das outras ciências sociais (era esta a ideia de “vocação ancilar” defendida por Greimas4), mas também, se for o caso, construindo seus próprios objetos e suas problemáticas a partir ou em função das contradições, das urgências, das preocupações do tempo presente, sem proibir-se a priori de se engajar e assumir posição?

4 Cf. Sémiotique et sciences sociales, Paris, Seuil, 1976, cap. 3. Em lugar desse gênero de relação de sentido único, hoje, sem dúvida, seria mais apropriado almejar mais intercâmbios (por definição recíprocos) com as outras disciplinas.

Optar por uma das exigências em detrimento da outra seria vão pois, por mais que elas se oponham, elas se pressupõem reciprocamente, nem mais nem menos que os termos contrários de qualquer categoria. Por essa razão, sejam as ex-Actes ou as novas Acta, a única política editorial que vale para uma revista de semiótica que pretende ser tanto fiel a si mesma quanto aberta ao mundo consiste em gerar a complexidade da relação entre uma tentação endógena que, entre nós, foi sempre muito forte (na mesma medida que a “atração das profundidades”, que, sabemos, deixava Greimas bastante perplexo5), e uma orientação exógena não menos necessária (e exemplarmente ilustrada pelos trabalhos pioneiros de Jean-Marie Floch ou de Françoise Bastide6). Por conseguinte, nem fechamento sobre si mesmo em um metadiscurso perfeito mas fora do tempo, que marginalizaria ainda mais uma disciplina já percebida por muitos, do exterior, como quase inútil, nem laxismo conceitual e diluição no discurso social ambiente : eis o mínimo. Mas há ainda mais a fazer (e mais árduo) do que relembrar uma dessas duas exigências quando a outra tende a se impor de modo exageradamente exclusivo : será procurar integrá-las uma à outra assegurando-se, por um lado, que a extrema atenção dada à preservação da coerência teórica interna torne possível ousar — e não iniba — um olhar semiótico extrovertido ; e inversamente, por outro lado, evitando que a exploração de territórios conceptualmente virgens se efetue, por uma espécie de contágio vindo do objeto, em detrimento das opções teóricas minimais e em princípio constantes da disciplina.

5 Cf. Algirdas J. Greimas e Joseph Courtés, Sémiotique. Dictionnaire raisonné de la théorie du langage, Paris, Hachette, vol. 2, 1986, p. 6.

6 Para nos limitar a duas entre suas contribuições aos antigos Actes Sémiotiques-Documents, mencionamos somente J.-M. Floch, “Sémiotique plastique et langage publicitaire”, ASD, 26, 1981 ; Fr. Bastide, “La démonstration”, ASD, 28, 1981.

A ambição de Acta Semiotica será manter-se neste rumo graças à colaboração de um grupo internacional de investigadores de espírito livre e criativo, ao mesmo tempo que zelosos em desenvolver uma semiótica eficaz, conectada à sociedade. Continuaremos assim o trabalho realizado nos últimos anos sobre a escritura dos textos publicados, esforço fundado sobre o postulado de que a profundidade do pensamento não justifica por princípio a ininteligibilidade do discurso, mas que, ao contrário, o bom desempenho redacional, que pressupõe a lucidez conceitual, condiciona ou pelo menos favorece o desenvolvimento do pensamento, e isso tanto mais quanto o objeto da reflexão for mais complexo. Exigir de todo artigo não somente a pertinência do propósito mas também o máximo de precisão, de exatidão e de justeza e, finalmente, de clareza na expressão encontra aí a sua razão de ser7. Questão de elegância, obviamente, e de cortesia em relação aos leitores, mas também condição indispensável ao fortalecimento dos laços, tão tênues até então, entre nossa disciplina tão singular e o mundo da vida tanto quanto com o mundo do saber que nos circunda. Isso porque para fazer a semiótica realmente existir (senão salvá-la !) enquanto projeto de ciência, é à comunidade intelectual em seu conjunto que nós devemos ser capazes de nos dirigir, e não exclusivamente a outros semioticistas.

7 Cf. Jean-Paul Petitimbert, « La sémiotique à l’épreuve de l’écrit : régimes rédactionnels et intelligibilité », Galáxia, 44, 2020, http://revistas.pucsp.br/galaxia/issue/view/2376.

Aos antigos e aos novos colaboradores da “AS”, agora renascida, eis como propomos trabalhar juntos no desenvolvimento de uma revista semiótica conceitualmente rigorosa, crítica e inventiva, plurilinguista, aberta ao mundo — e legível. Ao mesmo tempo projeto de ciência e projeto de vida, “gai savoir” resumia Greimas, a semiótica bem o merece e nos pede isso.

2. Política editorial
e organização prática

Acta Semiotica, publicação ligada ao Centro de Pesquisas Sociossemióticas8, é a revista de um grupo internacional de pesquisadores de origem e de orientação heterogêneas, mas ligado por um conjunto de opções epistemológicas, teóricas e metodológicas saídas essencialmente da obra de Algirdas J. Greimas. Esta filiação e esta fidelidade, sublinhadas pelo título escolhido ou, antes, mantido, definem a identidade da revista dentro do campo muito diversificado que constitui a semiótica no mundo. Apesar disso, Acta Semiotica não será o órgão dogmático de uma “escola” porque a defesa e ilustração de um patrimônio não bastariam. A fidelidade, como escrevia outrora Jean-Marie Floch, citando Paul Ricœur, exige a inovação tanto quanto a continuidade : “ela se alicerça numa ética e, portanto, impõe uma exigência que pode às vezes levar à ruptura”9.

8 Centro registrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do Centro Nacional da Pesquisa – CNPq, pela Pontífícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), desde 1995.

9 Jean-Marie Floch, Identités visuelles, Paris, Presses Universitaires de France, 1995, p. 39.

E é justamente repudiando todo dogmatismo que assumimos por objetivo reabilitar uma semiótica atualmente fechada sobre si mesma, sem que isso constitua uma necessidade. Queremos provar aos leitores de boa fé que a abordagem estrutural não é monolítica, mas suficientemente aberta em teoria para poder produzir leituras do mundo diferentes, talvez mais ricas e esclarecedoras que a maior parte do que muitos, até o presente, provavelmente tiveram ocasião de conhecer sob o rótulo de “semiótica greimasiana” ou de tal ou outra abordagem derivada. Para isso, fazemos apelo à paixão, hoje ainda partilhada por alguns entre nós, e também em nosso entorno, para construir uma verdadeira semiótica viva, uma reflexão para nossa época tão dramaticamente em busca do sentido.

Levando em conta essas escolhas, é compreensível que a revista publique, sobretudo, textos escritos sob encomendas dirigidas a autores individualmente escolhidos em função tanto de suas competências como de suas afinidades com a visada intelectual global da revista. No entanto, isso não exclui em nenhum grau a publicação de contribuições não solicitadas, mas relevantes : as propostas exteriores também serão sempre bem vindas. Encomendados ou propostos, os textos a serem publicados serão submetidos, dependendo dos temas abordados e dos problemas levantados, quer à avaliação cega de experts escolhidos no seio da equipe redacional (isto é, entre os 55 membros dos comitês da revista), quer à apreciação de competências disciplinares exteriores, se for necessário. Os trabalhos a avaliar serão examinados e discutidos com base em critérios de validade epistemologicamente fundados (e não apenas puramente formais) e com um espírito de ajuda mútua entre pesquisadores que, para além de sua diversidade, partilham em profundidade um conjunto de opções fundadoras. Dito de outro modo, Acta Semiotica assume como missão não entregar páginas e mais páginas de uma semiótica indiferenciada, mas funcionar como o laboratório de pesquisa de uma equipe, como um espaço de trabalho coletivo a serviço de um projeto científico comum: a construção de uma semiótica à altura do nosso tempo — o que supõe abertura de espírito, mas também coerência teórica interna.

Cada número se comporá principalmente de um, dois ou vários dossiês, que mais frequentemente sairão das sessões do Fórum online igualmente organizado por Acta Semiotica e pelo Centro de Pesquisas Sociossemióticas. Esse fórum é concebido à maneira de um seminário de pesquisa. Cada uma de suas sessões se compõe de cinco encontros de duas horas sobre um tema definido (quatro apresentações de uma hora com pesquisadores convidados, seguida de uma hora de discussão, mais um último encontro para debate geral). Após “A pandemia, acaso ou sentido?”, questão abordada em junho de 2020, ocorreram as sessões sobre “Paradoxos do ‘pós-consumismo’” (outubro de 2020), e o “Ritmo — entre esquematização e interação” (fevereiro de 2021). À diferença do que ocorre em muitos colóquios, não se trata de uma sequência de solilóquios com minutos cronometrados, mas de momentos de discussão crítica e detalhada em torno da exposição de cada colaborador, visando favorecer a redação posterior, para a revista, de artigos que, tanto quanto possível, dialoguem uns com os outros e contribuam para o aprofundamento da teoria. Ao lado dessas pesquisas de múltiplas vozes, outros textos, fora dos dossiês, solicitados pela equipe de redação ou propostos pelos autores, entrarão nas outras rubricas, umas já presentes neste número inaugural (“Aberturas teóricas”, “Descrições e análises”) e outras destinadas a aparecer em seguida (“Diálogo”, “O ponto semiótico”, “Boas folhas” etc.).

A distribuição das tarefas entre os órgãos encarregados do funcionamento da revista visa favorecer ao mesmo tempo a concertação e o espírito de inovação. O comitê de redação constitui o núcleo da equipe redacional ; em conjunto com a direção e o redator chefe, ao qual auxilia no dia a dia, é ele que define a política editorial da publicação. O conselho editorial, composto por pesquisadores seniors, desempenha um papel essencial à visada de abertura perseguida, reunindo, de um lado, semioticistas conhecidos de longa data, e, de outro, representantes de disciplinas que são os nossos primeiros e mais desejáveis interlocutores (linguística, antropologia, sociologia, direito, filosofia). Os membros do comitê de leitura partilham com aqueles das outras instâncias o trabalho de leitura e de avaliação dos textos, sem estarem aí confinados, pois, como o conjunto dos participantes de Acta Semiotica, eles são chamados a contribuir na orientação geral do dispositivo, propondo novos temas ou problemas a explorar, ou tomando eles mesmos a tarefa de organização de dossiês da revista ou de sessões do fórum10.

10 Ver a rubrica “Organigramme”.

O francês e o português são as principais línguas de Acta Semiotica, mas o italiano, o inglês e o espanhol são também bem vindos, tanto para as contribuições escritas para a revista quanto para as intervenções orais nos encontros do fórum.

 

3. Histórico
Das Actes Sémiotiques a Acta Semiotica11

Nascida em 1978 sob a forma de um Bulletin de informação de algumas páginas mimeo-grafadas, a publicação, ampliada no ano seguinte pela série monográfica dos Documents e logo rebatizada Actes Sémiotiques (título que encantou Greimas quando eu lhe propus), foi, durante um período de quase dez anos, semioticamente entre os mais criativos, o lugar de publicação regular dos trabalhos do que o “mestre” chamava de “clube dos iguais” (oficialmente, Groupe de Recherches Sémio-linguistiques), foco de intensas discussões que tinha criado ao seu redor. Mas sua aposentadoria determinou tamanhas desavenças entre os membros do grupo que ele resolveu, juntamente com seu redator, colocar um ponto final na revista. De fato, ela não foi publicada em 1988.


11 Ver a recapitulação cronológica na rubrica “Historique”.

Entretanto, ela renasce, sob uma outra forma, no ano seguinte. Começa então uma longa fase intermediária, sem linha diretiva muito precisa, a dos Nouveaux Actes Sémiotiques (1989-2006), série de monografias editada em Limoges sob a direção conjunta do autor dessa apresentação e de J. Fontanille, que, nessa época, como diretor da Faculdade de Letras, podia assegurar sua ancoragem institucional.

Em 2007, houve uma metamorfose tecnológica com a passagem à edição online. Ao mesmo tempo, as “NAS” começam a ganhar o aspecto de uma revista propriamente dita com dossiês e seções regulares (Pesquisa, Análise, Resenhas).

Em 2012, nova mutação, simbolicamente sublinhada pelo retorno à denominação Actes Sémiotiques, simplesmente. É o início de um mandato de nove anos (2012-2020) marcado pela escolha de uma política redacional rigorosa (caça à trivialidade e ao jargão vazio, trabalho aprofundado sobre a precisão conceitual, a coerência e a clareza dos textos) e de uma verdadeira política editorial que, graças a um conjunto de iniciativas coordenadas, permitiu as Actes alargar a sua audiência (introdução do plurilinguismo, internacionalização dos comitês editoriais) e se desenvolver internamente (diversificação das rubricas, multiplicação dos dossiês, publicação anual de um grande texto encomendado a um autor particularmente experiente12), tudo isso sem esquecer o passado (reedição de AS-Documents, Archives ouvertes). Esses esforços desembocaram na reconstituição (um pouco à maneira do “clube” original), em torno da redação, de uma equipe internacional de jovens pesquisadores produtivos e promissores, que compartilham uma ideia exigente de semiótica. Continuar a encorajar tais vocações pensando na sucessão necessária é também um dos motivos do atual revezamento, desde as últimas Actes até a presente Acta.

12 2013, M. Hammad ; 2014, Fr. Marsciani ; 2015, J. Fontanille ; 2016, J.-D. Urbain ; 2017, B.S. Jackson ; 2018, Cl. Calame ; 2019, A. Sverdiolas.

É nesse contexto e, fundamentalmente, contra essa política de abertura tanto quanto de rigor, que, no início de 2020, de repente apareceu em plena luz uma divergência de concepção há muito tempo latente a respeito das condições da sobrevivência — sem falar do desenvolvimento — de nossa disciplina. Publicado no dia 28 de fevereiro, o número 123 incluiu uma rubrica Dialogue composta de cinco textos. Três entre eles escandalizaram um alto representante da “escola de Paris”, autor do trabalho discutido na seção. Intimado a suprimir os três artigos incriminados, o redator chefe preferiu se afastar da revista para não trair os autores que acabara de editar e nem desonrar a função de editor. Os textos em questão foram “des-publicados” — isto é, censurados — no dia 4 de março13. Quase a metade dos membros da redação demitiram-se nas semanas sucessiva14. Face a um tal golpe contra o espírito mesmo da revista, a necessidade de um novo espaço de reflexão, livre e autônomo, impunha-se. Por isso, um ano depois, surge a Acta Semiotica, último avatar da semiótica greimasiana.

13 Contudo, os dois principais deles estão disponíveis graças à revista Galáxia que os acolheu no mês seguinte : Per Aage Brandt, “De la ‘sujétion’, ou Crise de la sémiotique”, Galáxia, 44, 2020, http://revistas.pucsp.br/galaxia/issue/view/2376 e Jean-Paul Petitimbert, “La sémiotique à l’épreuve de l’écrit : régimes rédaction¬nels et intelligibilité”, art. cit., ibid.

14 P. Aa. Brandt, Cl. Calame, G. Ceriani, Y. Fechine, J.L. Fiorin, R. Flores, P. Fröhlicher, M. Hammad, B.S. Jackson, N. Kersyté, E. Landowski, K. Nastopka, A.C. de Oliveira, R. Pellerey, J.-P. Petitimbert, P. Sulkunen, F. Thürlemann, J.-D. Urbain.


Eric Landowski
Redator chefe da revista Acta Semiotica
Codiretor do Centro de Pesquisas Sociossemióticas
(CPS, PUC, São Paulo) desde 1994
Anteriormente redator chefe da revista Actes Sémiotiques
(1979-1987 e 2012-2020)

 


1 Título de um debate publicado no final de fevereiro de 2020 na rubrica Dialogue das Actes Sémiotiques (n° 123) e “despublicada” no início de março.

2 Cf. Massimo Leone, “Post-structural Semiotics”, in AAVV, Bloomsbury Semiotics, no prelo, 2021.

3 Cf. E. Landowski, “Greimas e o greimasianismo”, in Com Greimas, São Paulo, Estação das letras e das cores, 2017, p. 159-163.

4 Cf. Sémiotique et sciences sociales, Paris, Seuil, 1976, cap. 3. Em lugar desse gênero de relação de sentido único, hoje, sem dúvida, seria mais apropriado almejar mais intercâmbios (por definição recíprocos) com as outras disciplinas.

5 Cf. Algirdas J. Greimas e Joseph Courtés, Sémiotique. Dictionnaire raisonné de la théorie du langage, Paris, Hachette, vol. 2, 1986, p. 6.

6 Para nos limitar a duas entre suas contribuições aos antigos Actes Sémiotiques-Documents, mencionamos somente J.-M. Floch, “Sémiotique plastique et langage publicitaire”, ASD, 26, 1981 ; Fr. Bastide, “La démonstration”, ASD, 28, 1981.

7 Cf. Jean-Paul Petitimbert, « La sémiotique à l’épreuve de l’écrit : régimes rédactionnels et intelligibilité », Galáxia, 44, 2020, http://revistas.pucsp.br/galaxia/issue/view/2376.

8 Centro registrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do Centro Nacional da Pesquisa – CNPq, pela Pontífícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), desde 1995.

9 Jean-Marie Floch, Identités visuelles, Paris, Presses Universitaires de France, 1995, p. 39.

10 Ver a rubrica “Organigramme”.

11 Ver a recapitulação cronológica na rubrica “Historique”.

12 2013, M. Hammad ; 2014, Fr. Marsciani ; 2015, J. Fontanille ; 2016, J.-D. Urbain ; 2017, B.S. Jackson ; 2018, Cl. Calame ; 2019, A. Sverdiolas.

13 Contudo, os dois principais deles estão disponíveis graças à revista Galáxia que os acolheu no mês seguinte : Per Aage Brandt, “De la ‘sujétion’, ou Crise de la sémiotique”, Galáxia, 44, 2020, http://revistas.pucsp.br/galaxia/issue/view/2376 e Jean-Paul Petitimbert, “La sémiotique à l’épreuve de l’écrit : régimes rédaction¬nels et intelligibilité”, art. cit., ibid.

14 P. Aa. Brandt, Cl. Calame, G. Ceriani, Y. Fechine, J.L. Fiorin, R. Flores, P. Fröhlicher, M. Hammad, B.S. Jackson, N. Kersyté, E. Landowski, K. Nastopka, A.C. de Oliveira, R. Pellerey, J.-P. Petitimbert, P. Sulkunen, F. Thürlemann, J.-D. Urbain.


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